A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Costa Barros, na Zona Norte do Rio, permanece de portas fechadas uma semana após ter sido invadida por criminosos fortemente armados. O ataque, ocorrido durante um confronto entre facções rivais, forçou a suspensão total dos serviços de emergência, deixando milhares de moradores sem atendimento básico.
A violência, que se tornou rotina na região dominada por grupos ligados ao Comando Vermelho (CV) e ao Terceiro Comando Puro (TCP), gerou revolta entre os moradores. Nas redes sociais, relatos se multiplicam com críticas à falta de segurança e ao descaso das autoridades.
“É revoltante ver uma unidade de saúde fechada por causa da violência. O povo fica desamparado”, desabafou uma moradora.
Medo e sensação de abandono
Mesmo com a presença de blindados e viaturas nas imediações, a população afirma que o medo predomina. Muitos trabalhadores relatam que evitam passar pela área, temendo novos tiroteios.
“Tem caveirão ali todo dia, mas o tráfico continua mandando. Fecharam a UPA e quem sofre é o morador”, relatou um motorista de aplicativo.
Desde a invasão, operações policiais foram realizadas nos complexos da Pedreira e do Chapadão, mas o clima de tensão continua. A Prefeitura do Rio ainda não anunciou previsão de reabertura da unidade, o que tem intensificado a cobrança popular.
Entenda o caso
De acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde, o grupo criminoso invadiu a UPA em busca de rivais baleados que teriam sido levados ao local para atendimento. Durante a ação, funcionários foram ameaçados e dois pacientes chegaram a ser levados pelos criminosos, sendo liberados posteriormente.
Segundo o relato da unidade, ambos foram atendidos e deixaram o local antes da alta médica. A Polícia Militar afirmou que não foi acionada durante a invasão e tomou conhecimento do caso apenas após sua divulgação pela imprensa.
Resposta das autoridades
Em nota, a Polícia Militar informou que determinou a ocupação permanente da região de Costa Barros, sob responsabilidade do 41º BPM (Irajá). A corporação classificou a área como uma das mais complexas da cidade, destacando que as ações visam garantir segurança e restabelecer a ordem.
“A PM mantém esforços permanentes de policiamento e ações de proximidade para proteger vidas e reduzir a sensação de insegurança”, declarou a instituição.
A Polícia Civil também confirmou que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga a morte de um homem que teria sido levado por criminosos em uma ambulância para a UPA, já sem vida. O uso irregular do veículo e as circunstâncias da invasão seguem sob apuração.
Crise de violência nos hospitais do Rio
O caso de Costa Barros não é isolado. Em menos de um mês, outras unidades de saúde do Rio foram palco de episódios semelhantes.
No Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, milicianos armados invadiram o local para executar um paciente internado após um tiroteio. Já no Hospital Federal do Andaraí, tiros atingiram as janelas do prédio durante confronto entre facções, no mesmo dia em que o ministro Alexandre Padilha visitava o local.
Os episódios escancaram o avanço da violência sobre espaços públicos essenciais, como hospitais e postos de saúde, e reacendem o debate sobre a presença do Estado nas comunidades dominadas pelo crime organizado.